Não houve bola, jogadores ou mesmo um árbitro na maior batalha já travada no ginásio Colombo Salles. Na noite de 17 de março de 1978, centenas de torcedores do Comerciário sentaram-se no concreto frio das arquibancadas para acompanhar de perto a reunião do Conselho Deliberativo do clube. Dentro da quadra, seguiam-se discussões acaloradas entre quase 80 dos 120 sócios patrimoniais. Eles se preparavam para votar uma controversa proposta do presidente Antenor Angeloni: a mudança de nome do Bacharel. Se aprovada, o Comerciário passaria a ser conhecido como Criciúma daquela noite em diante. “Deu briga na arquibancada. O pau pegou”, recorda-se Osvaldo de Souza, vice-presidente naquela ocasião.
Osvaldo, aliás, fazia campanha aberta contra a mudança de nome por considerá-la desnecessária, uma vez que todos os demais clubes da região haviam fechado as portas de seus departamentos de futebol profissional. Na hora do pleito estavam aptos a votar 62 associados, cujas mensalidades estavam em dia. Os favoráveis à mudança para Criciúma Esporte Clube venceram por 37 a 25. Carlos Borba, fundador do clube, garante que o novo nome foi escolhido atendendo a uma exigência da Prefeitura Municipal, que em troca ofereceria isenção fiscal. Num artigo publicado em um jornal local, Carlos afirmava com veemência que o novo Criciúma não poderia utilizar mais os títulos de “mais querido” ou “bacharel da pelota”, nem chamar o estádio Heriberto Hülse de Majestoso.
Osvaldo não concorda com a versão da isenção fiscal. “O (presidente) Antenor era um comercialino doente mas um cara muito avançado. Ele achou que esta seria a solução. Juntava os torcedores todos dos adversários (que fecharam as portas) e saía um time com força”. Além disso, o grupo derrotado na votação teve duas exigências atendidas: a data de fundação e o nome do estádio (Heriberto Hülse) foram preservados. Muitos decanos do Comerciário, porém, nunca mais colocaram os pés no clube. O próprio Osvaldo, participante da leva dos fundadores, precisou de mais de um ano para digerir a mudança. Começava a Era Criciúma.
A bandeira do novíssimo Criciúma Esporte Clube, já utilizando o novo escudo provisório. O definitivo só seria aprovado em 1984 |
O primeiro mascote sugerido depois da mudança de nome do clube do estádio Heriberto Hülse |
Os anos 70 foram uma década perdida para o futebol criciumense. Se na década passada a cidade havia conquistado cinco títulos estaduais (quatro do Metropol e um do Comerciário), entre 70 e 75, apenas o Próspera manteve, a duras penas, um time profissional disputando o catarinense. Neste período, o Comerciário dispunha de um modesto time amador. Em setembro de 1976, Osvaldo de Souza, comercialino doente desde 1947, juntou em torno de si um grupo de amigos, e reabriu o departamento de futebol profissional do Bacharel. Dia 7 de fevereiro de 77 ele assumiu a presidência do clube e montou um time qualificado para o retorno às disputas o campeonato catarinense. “Nós segurávamos a folha de pagamento com rifa e bingo”, lembra Osvaldo. Quando ampliavam-se as arquibancadas do estádio, surgiu a ideia de construir um restaurante. Ali correram vários fuscas em premiações para convivas dos jantares organizados pelo clube. No primeiro ano de regresso o Comerciário chegou à fase final do Estadual. Foi desclassificado pelo Avaí, no Heriberto Hülse, depois de perder 1 a 0. Infelizmente, o gol que classificou o time da Capital foi marcado por Lorival, ex-Atlético Operário, bronca antiga dos dirigentes do Bacharel. “O goleiro deu um balão no tiro de meta e caiu no pé do Lorival. Ele não esperou, deu por cobertura e fez 1 a 0”, lembra Osvaldo. A Chapecoense sagraria-se campeã naquele ano.
Fonte: Jornal da Manhã
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